Ainda consigo me ver correndo pela rua, brincando com as outras crianças de minha idade. Sobe em árvore, desce de árvore, corre para um lado, corre para o outro, e você ali, com sua cadeia branca, sentado na esquina, olhando o movimento. Sempre acompanhado pela garrafa de pinga e seu fiel copo de vidro.
De tempos em tempos um gole era dado. Essa já tinha se tornado sua marca.
Me lembro de quando um novo companheiro se juntou a você. Aquele papagaio verde, alegre, que não parava de falar um minuto, te fazia companhia todos os dias, e contigo conversava sem parar. Chamando a atenção de todos que passavam pela rua.
Não era muito difícil, e estávamos todos lá, todas as crianças haviam abandonado a brincadeira, para ao seu lado sentar, e escutar suas histórias. Também falávamos sobre os mais diversos assuntos, e sempre tínhamos a garantia de boas risadas.
Apesar da grande diferença de idade, você, com seus cabelos brancos, sabia cativar a todos. Era o diferencial de nossa rua. A alegria e simpatia em pessoa. Não tinha quem não o conhecesse e falasse bem de ti.
É com lágrimas nos olhos que me recordo do dia que pela última vez, dentro do carro, você virou a esquina de nossa rua. Seus olhos pareciam já saber o que estava para acontecer, e com olhar de despedida, olhou para todos, um a um, que estavam sentados na calçada ao lado da sua.
Aquele olhar foi na verdade um abraço. Um agradecimento. Uma despedida.
Naquele dia você se foi... e não voltou mais.
A cadeira branca ainda ficou em seu lugar, mas do que adiantava, se o senhor já não estava mais lá. É “seo” Dorival, o tempo passou, você não está mais aqui, eu cresci, mas apesar disso, não tem como esquecer de ti. Um dos melhores, se não o melhor vizinho que eu já tive.
Saudades...
Abraços!
Fiquei emocionada...Bela homenagem. Beijos
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