28 de jan. de 2011

Ah, depois eu falo...

por Mariana Perez


Estranho seria se eu fosse diferente... Estranho sim seria se eu fosse um homem com essas atitudes. Existem muitas coisas que me tiram o sono, mas hoje não vim falar da pobreza na África, e nem do limite do meu cartão de crédito que vive eternamente estourado.

Para alguns é uma simples frase, ou um momento em que se precisa de uma pausa e eu tenho (por obrigação divina) que ser a mulher mais paciente do universo.

Mas quando os meus ouvidos escutam “Ah, depois eu falo”, tremores na Terra e diferenças na escala Richter irá acontecer, vulcões em erupção na Tailândia, os meus neurônios se preparando na batalha interna entre eles, tudo isso acontecendo ao mesmo tempo dentro de mim.

Não há nada mais no Brasil, no planeta, na Via Láctea que me torture mais do que essa frase. Enfiem agulhas quentes em baixo das minhas unhas. Faça-me comer um pote com 1 kg de pimentões e azeitonas em conserva (urg!). Tranque-me em um quarto escuro lotado de ratos e baratas. Obrigue-me a tomar banho gelado às cinco horas da manhã. Mas não digam que tem algo pra me falar depois. Isso acaba com o meu dia, com a minha pele, com o meu estômago, com o meu cabelo e as minhas unhas. Meus neurônios trabalham feito “maria-fumaça” dentro da minha cachola. Um busca em todas as vezes que alguém me disse isso. O outro apresenta um gráfico contendo os principais assuntos da última semana, que é pra ver se eu adivinho. O outro interpreta o tom de voz do indivíduo (quem sabe consegue identificar alguma coisa!). O outro faz um levantamento dos possíveis sinais emitidos pelo cidadão, nos dias que precederam a sentença lançada a mim. Milhões trabalhando a milhão. É tanta energia gasta que chega a ser frustrante quando tudo o que ele queria era perguntar se eu estaria em casa na terça, depois das 18:00 hs.

Tudo passa pelo crivo da minha mania de interpretar. Tudo ganha proporções imensas. Tudo é tempestade, mesmo sem nunca ter sido, ao menos, um copo d´água.

Mas o que me consola nisso tudo é que não estou sozinha. Sei que existem milhares, bilhares de exemplares femininos perdidos no mundo que são iguaizinhas á mim.

Bate aqui, amigas! ;)


“Nós (as mulheres), as reconhecidas como sensíveis e afetivas, somos, na verdade, máquinas cerebrais. Alucinadamente cerebrais. Capazes de surtar com qualquer coisa, desde as mínimas até as muito mínimas. Somos mulheres que nunca estão à toa na vida, vendo a banda passar, e sim atoladas em indagações, tentando solucionar questões intrincadas, de olho sempre na hora seguinte, no dia seguinte, planejando, estruturando, tentando se desfazer dos problemas, sempre na ativa, sempre atentas, sempre alertas, escoteiras 24 horas.”
(Martha Medeiros)


Um final de semana iluminado ♥

3 comentários:

  1. Ainda bem que não sou a unica nesse mundo viu Mariana!Sofro do mesmo mal hahahaha!!!

    Muito bom humor!!

    Kik@

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  2. Mariana, seu senso de humor continua apurado até nessas situações tão cotidianas do universo femino!

    Parabéns!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
    Abraços

    Ricardo Shneider ( Porto Alegre)

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  3. ah Mariana, então agora descobri de onde vem suas inspirações! A Medeiros é ótima!

    Ótimo texto! Humor e realidade!

    Claudia Bastos

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