18 de mai. de 2012

Demorou, mas ela chegou!

por Mariana Perez


Olhando de fora, a gente sempre acha que não irá sobreviver a uma situação da qual tem muito medo. E é exatamente por isso que a gente tem medo. Mas quando acontece, não resta outra opção senão sobreviver, o que, no fim das contas, nem é tão ruim. Quer dizer, no início é ruim porque você nem está muito interessado em sobrevivência ou qualquer coisa que o valha. Mas a vida insiste. Me lembro, como quem se lembra de um sonho confuso, do momento em que a vida me confrontou com a situação que eu tanto temia. A hora da perda é muito estranha. Parece que você está pisando sobre nada e que o céu também está interessado em cair na sua cabeça. Você cambaleia e se apoia nas coisas e nas pessoas, mas é como se tudo e todos fossem fantasmas transponíveis. Depois foram quatro ou cinco dias (não estava boa para contar, nessa fase) andando como um zumbi atrás das pessoas da minha casa, com medo de ficar só, porque, de repente, fui acometida pelo pânico de todo mundo ser um covarde que pudesse me deixar sozinha, sem mais nem menos. Mas ninguém aqui me deixou e, embora eu mereça às vezes, tenho a certeza de que não vão me deixar nunca. Eu não sei ao certo, mas acho que foi daí que começou a nascer à força. Eu a sentia chegar devagar, quando eu tinha uns rompantes de vontade de comer, de escrever, de me arrumar e outras coisas que me são tão naturais, mas que, naqueles dias, não eram. Eu até supus que ela continuaria a vir em doses homeopáticas e que, algum dia, eu voltaria a ser algo parecido com o que eu era antes de tudo. Mas não está na minha natureza física nem psicológica saber esperar. Eu não poderia esperar "algum dia" sem saber que dia seria esse. Então meu corpo, meus membros, meus órgãos, minhas células, meu consciente, meu inconsciente, minha memória, minha alma, meu coração, enfim, essa coisa toda que a gente chama de "eu" sofreu uma explosão. Uma explosão de força. Sabe como? Um dia eu acordei e parecia que eu era o Popeye e tinha comido todo o espinafre do mundo. Eu, que nunca consegui abrir nem garrafa de refrigerante, me peguei abrindo vidro de azeitona (acho melhor palmito!). Comendo, sorrindo, escrevendo, saindo, conhecendo gente, organizando festa e viagem, fazendo mil e um planos.

A força reduziu certos sentimentos a pó e me trouxe essa descoberta de que não havia sido deixada nenhuma lacuna na minha vida. Eu perdi alguma coisa? Perdi, talvez. Mas diz um hit brega dos anos 90 que "nem tudo o que se perde tem valor", e é bem por aí mesmo. Alguém pode pensar que isso é conversa de mulher recalcada. Tudo bem. Fiquem à vontade com seus pensamentos. O que os outros pensam de mim não sou eu e vocês já devem ter notado pela toada do texto que o que não sou eu não me interessa mais. Nada daquilo me interessa mais. Tanto não me interessa mais que agora eu consigo escrever sobre isso. Só agora. Embora tenha tentado durante todo esse mês que passou — sendo bem incapaz em todas as tentativas. Mas agora veio tudo. É sempre assim: depois da força, vem a lucidez. Vi todas as palavras escorrendo pelos meus dedos e pelas minhas unhas. Minhas unhas pintadas de vermelho, coisa que eu não fazia há tempos, desde que estava possuída por aquela personalidade boba e subserviente. Mas agora sou eu de novo. Eu forte. E com esmalte vermelho nas unhas dos dedos pelos quais escorrrem as palavras que, de uma vez por todas, colocam um fim nessa história de início previsível, meio angustiante e fim libertador.

Uma última pá de terra, por favor!

Um final de semana iluminado ♥

Ih, Falei!


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