por Marco Nascimento
Às 5 horas da manhã em ponto o celular tocava. Não era nenhuma ligação, era o despertador gritando que era hora de eu acordar. Levantava da cama. Escovava os dentes. Me trocava. Ao mesmo tempo em que tomava o café da manhã, aproveitava para ler o jornal.
Às 06:30 em ponto saia de casa. Neste horário meu filho, Fernando, já estava pronto e me esperava para levá-lo a escola. Mesmo aos 5 anos o garoto já acordava cedo e tinha uma rotina de adulto.
Enquanto eu passava o dia todo entre papeis, ligações e reuniões, meu pequeno estudava, fazia natação, inglês, informática, futebol, judô, dentre outras atividades que a escola oferecia e que eu sabia, pois havia assinado os papeis de sua participação no começo do ano.
No fim de sua rotina, Fernando voltava pra casa com Gabriela, sua mãe, minha esposa, pois eu ainda ficara trabalhando. E assim foi por dias e dias. Foi por anos e anos. Mesmo depois de o Fernando ter ido para a Universidade.
E quando ele passou para o ensino superior, a rotina dele mudou, a minha não. Era trabalho de segunda à sexta-feira. De manhã até a noite. Aos sábados me trancava no escritório de casa. Trabalhando. Aos domingos... ah, os domingos. Queria apenas descansar. Ele, apesar da correria da universidade tinha mais tempo livre do que eu.
Hoje me passaram todos estes anos pela cabeça. Assisti ao filme da minha vida, e pude perceber o quanto eu errei no roteiro. Agora que estou aqui, em uma cama de hospital, talvez próximo de meu último suspiro. Vejo como deixei a vida passar, quanto errei com Fernando, com Gabriela, comigo mesmo.
Por anos achei que meu filho seria feliz se eu pudesse dar a ele os brinquedos que pedia, as viagens para os lugares que queria, as festas temáticas que sonhava. Que para ser um bom rapaz precisaria estudar nas melhores escolas. Que precisaria saber lutar judô, nadar, falar inglês... esqueci que ele precisaria de um amigo pra conversar, de um torcedor, de um pai. De carinho...
Não me lembro do primeiro passo de meu filho. De vê-lo se vestir de super herói. De ajudá-lo com a tarefa da escola. De falar sobre a primeira namorada. De ir jogar futebol com ele.
Sei que está tarde para me arrepender de tudo que fiz. Mas não é tarde para te pedir uma coisa meu filho, talvez meu último pedido: perdoe-me.
Perdoe-me por ser tão egoísta e pensar que eu saberia te dar a felicidade, sem lhe perguntar como você queria ser feliz. Perdoe-me por te dar tudo, mas não o principal, atenção e carinho.
Perdoe-me!
Ih, Falei!
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