por Fabi Prado
Sempre que alguém me pergunta quando eu comecei a trabalhar, espanta-se com a resposta: com 14 anos. Exatamente. Minha mãe e uma prima dela tinham uma pequena confecção de camisas masculinas. Na época o que bombava eram as camisas modelo “Raimundo Flamel”, que era o personagem protagonista da novela Fera Ferida, vivido por ninguém menos que o perfeito Edson Celulari. Lembro-me como se fosse hoje. Eu fazia o “carreto” das camisas e sempre na volta elas pediam que eu passasse em algum armarinho comprar botões ou linhas. E me davam lá um troquinho aqui, outro ali.
Aos 15 anos eu já tinha o meu primeiro registro em carteira. Trabalhei como auxiliar de biblioteca em uma universidade aqui de Bauru. Tempo bom, diversão, aprendizado enorme. Guardo grandes amigos e experiências daquela época, sem falar na grande contribuição para o meu crescimento pessoal e profissional.
Em seguida vieram mais 4 empregos.
Por Deus sempre tive alguma sorte. Eu sempre fui muito querida por onde passei, nunca quis guardar o conhecimento pra mim, sempre passava adiante o que eu sabia, jamais tive medo de ser passada pra trás por algum colega de trabalho “traíra” e sempre desempenhei o meu trabalho da melhor forma possível, mesmo quando havia adversidades (e houve várias).
Apesar de nunca fugir do batente, com o tempo o mundo profissional moderno começou a me incomodar. A briga por bater metas (absurdas quase sempre), foco, direcionamento, concentração, criatividade, constante mudança, 9, 10 horas de trabalho escravo diário e corrida desmedida pelo primeiro lugar começaram a me fazer perder a vontade de crescimento, visto que com a competição cada vez mais acirrada, fica cada dia mais impossível ser o profissional que o mercado espera.
O mercado quer um cara que não tem família, que não tem amigos; quer um cara que estudou no melhor colégio e depois na melhor faculdade; quer um cara que fale inglês, espanhol, italiano e francês; quer um cara que pode entrar às 7 da manhã e sair às 20 ou 21 horas e que nem sempre pode fazer horário de almoço, mas não quer pagar o quanto esse funcionário vale; quer um cara que não precisa ir a médico, a dentista; quer um cara que não precisa de lazer, de diversão, de descanso.
Pra mim, não dava mais pra suportar isso. Mesmo com toda a minha experiência, acabei mudando os ares. Comecei então a procurar algo que me satisfizesse sem pressão por metas batidas ou sem controle de onde estaria o meu foco ou sem cobranças sobre a minha falta de criatividade (nem sempre estamos inspirados).
Queria algo que me desse o direito a sair no horário ou que me desse o direito a receber minhas horas extras quando eu as fizesse, um lugar que não tivesse o tal do “banco de horas” que é uma maldição corporativa da pior espécie, um lugar que me respeitasse, que entendesse que eu preciso ir ao médico e ao dentista sem ameaçar de me mandar embora por causa disso, um lugar que entendesse que eu preciso de vez em quando entrar mais tarde pra poder resolver algum probleminha pessoal sem ter que ficar aguentando chefe de cara feia por conta disso, um lugar que me remunerasse dignamente, que oferecesse bons benefícios, um lugar que entendesse que eu tenho família, amigos, que eu tenho uma vida além do ambiente de trabalho.
Ir para o lado do empresariado não ia rolar, afinal se eu quero fugir do escravismo profissional mascarado da atualidade, não daria certo eu ser empresária, eu teria que conviver com isso diariamente. Eu seria a maior escrava, diga-se de passagem.
Ir para o lado filantrópico também não rolava. Sou extremamente emotiva, fraca emocionalmente. Não posso com nada que me remeta à tristeza, á ausências, fraquezas. Sendo assim, sem chance nesse ramo também.
Só me restou o funcionalismo público. E eu então optei por isso.
E hoje vejo que o serviço público é viciante. Bons salários em geral, bons benefícios, horários tranquilos, sem pressões desumanas, sem infrações as normas trabalhistas. Era o que eu buscava e estou feliz. Pelo menos por enquanto é, sem dúvida, o melhor emprego que eu já tive, não tenho do que me queixar.
Vejo muita gente desmotivada no setor público, mas sinceramente, em vista da loucura que se vê ai fora, o setor público é sem dúvida uma opção gratificante e talvez a mais sóbria de todas.
Eu recomendo. Quem me conhece sabe: eu não jogo ninguém na fogueira. Se estou recomendando, é porque vale a pena.
Amigos, findo-me por aqui. Aquele abraço e até a semana que vem, se Deus quiser.
Ih, Falei!
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